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Como uma simples peça em formato de S revolucionou nossos banheiros

16/03/2018 14:58

Conheça a história da invenção que tornou possível não sentir o cheiro do esgoto dentro de casa

 

"Isso fede", exclamou um editorial do jornal London's City Press, em 1858, sobre um "problema óbvio" que afligia os moradores de Londres. O fedor em questão não era apenas metafórico.

Com o crescimento da população, o sistema de escoamento de dejetos humanos era inadequado e insuficiente. As autoridades passaram a despejar os excrementos em canais com o objetivo de aliviar a pressão sobre as fossas - às vezes elas transbordavam, escorriam e exalavam o explosivo gás metano.

No entanto, essa estratégia criou outro problema: os canais, originalmente destinados a águas pluviais, desembocavam no rio Tâmisa, que passou a receber os dejetos humanos. Está aí explicação do fedor: o rio mais importante de Londres virou um esgoto a céu aberto. A cólera era abundante na cidade nessa época. Um dos surtos matou 14 mil londrinos - um em cada dez habitantes da cidade.

O escaldante verão de 1858 piorou o mau cheiro em Londres e impediu que o fétido rio de Londres fosse ignorado. E essa onda de calor ficou conhecida historicamente como o "Grande Fedor".

Uma improvável ajuda

Se você vive hoje em uma cidade com saneamento básico moderno, talvez seja difícil imaginar a rotina em um local com constante cheiro de excrementos.

Por isso, temos muitas pessoas a agradecer. Uma delas, e talvez a mais importante, seja a improvável figura do relojoeiro Alexander Cumming.

Alexander Cumming (1733 - 1814) era um especialista em mecânica de objetos minúsculos. O rei George 3º, por exemplo, chegou a encomendar a Cumming um equipamento para registrar a pressão atmosférica e um pioneiro micrótomo (aparelho que faz pequenos cortes para análises microscópicas).  Porém, sua invenção que de fato mudou o mundo não tem nada a ver com engenharia de precisão. Na verdade, a maior criação do relojoeiro foi um cano em curva, em formato de S.

Em 1775, Cumming patenteou o "S-bend" (curva em S, também chamada de sifão). Esse equipamento se transformou no ingrediente secreto para a criação da descarga - e do sistema sanitário como conhecemos hoje.

 

Simplicidade

 

Anteriormente, as descargas nos banheiros também eram um problema por causa do cheiro: a tubulação conectada ao esgoto permitia que os odores de fezes e de urina retornassem ao banheiro caso não houvesse algum recipiente hermeticamente fechado.

A solução de Cumming foi simples: ele dobrou o cano. Com isso, a água represada em uma das dobras impedia que o fedor retornasse pela tubulação.

O lançamento, no entanto, demorou um pouco: em 1851, quando foi lançado em na Grande Exposição em Crystal Palace, esse tipo de descarga ainda era uma novidade em Londres a ponto de a maioria das pessoas ainda desconhecê-lo. 

Na exposição, milhares de londrinos se espremeram na fila para desfrutar das "maravilhas" do sistema de descarga moderno. Usar a nova ferramenta custava apenas um centavo.

 

O fim dos "banheiros voadores"

Mais de 170 anos depois, cerca de dois bilhões de pessoas no mundo ainda não têm saneamento básico e fornecimento de água saudável, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). Melhorar essa situação ainda é um grande desafio.

Se os penicos, baldes e outros vasilhames usados pelas pessoas para despejarem seus dejetos nas águas de rios e mares (como o "banheiro voador", do Quênia) fossem substituídos por uma descarga, certamente traria benefícios para o dono da casa. Até mesmo seus vizinhos o agradeceriam pela opção.

Ao escolher comprar uma descarga, o cidadão ajuda a desenvolver um sistema de esgoto que pode beneficiar outras pessoas, e não somente ele próprio, ou somente a sua casa.

Entretanto, o cano em S pode custar dez vezes menos que um celular, por exemplo, mas a tendência é que a maioria das pessoas escolha o aparelho, e não o sistema sanitário.

 

[Fonte: BBC BRASIL]

 

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